sábado, 31 de julho de 2010

Começando

Minhas lembranças mais antigas de Nita são ligadas à cultura, aos livros, à música, à sua inacreditável Kombi, aos cigarros, ao seu cabelo branco, sua bela e afinada voz, suas lindas mãos, sua enorme roda de amigos... Eu, bem pequenininho, impressionado com aquela enorme estante de livros que se perdia nas alturas de seu quarto sempre arrumado, lá na Rainha Elizabeth, Edifício Acary. Havia um perfume distinto da lavanda que ela usava. Não sei qual era, mas estava sempre no ar. Nita a pessoa sempre de bom humor, mas de espírito rápido e bronca idem. A tia que não era tia pois não admitia ser chamada assim. Aquela que me apresentou Beethoven e um mundo de coisas, que de vez em quando aparecia com uma coleção de livros ou um busto de algum músico. Aquela que, num dia em que dormi na casa dela, pobre de mim, riu deliciada quando soube que eu havia escovado os dentes com Brylcreem. A Nita dos sanduíches de pernil de porco do botequim da esquina. A Nita que foi nos acudir - a mando de minha avó - a pé, com mantimentos, quando ficamos ilhados naquele São Conrado de 1965 após chuvas torrenciais haverem interrompido as estradas. A Nita que era amiga de todos e por quem todos tinham carinho. A Nita que sempre encontrava um ex-aluno em qualquer cidade do mundo.  Tanta coisa, tantas lembranças que aqui colocarei - parafraseando o Aldir Blanc - com o auxílio de vocês.